
No próximo sábado, 29 de março, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) dará um passo histórico na educação indígena com a aula inaugural da primeira turma de Licenciatura em Educação Indígena, ofertada pelo Programa de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). O evento será realizado na Terra Indígena Guarita, no Setor São João do Irapuá, em Redentora, a partir das 8h30.
O curso, voltado exclusivamente para estudantes indígenas, visa formar professores que atuarão dentro de suas próprias comunidades, garantindo uma educação que respeite e fortaleça as tradições, os saberes e as línguas dos povos originários. Com participantes de diversas aldeias do Rio Grande do Sul, a licenciatura reforça o compromisso da UFSM com uma educação intercultural e inclusiva, alinhada à autonomia e aos modos próprios de ensino e aprendizagem dos povos indígenas.
A iniciativa da universidade está amparada por legislações que garantem o direito dos povos indígenas à educação diferenciada. A Constituição Federal de 1988 reconhece a importância de políticas que respeitem suas culturas e modos de vida. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) assegura o ensino bilíngue e intercultural, enquanto a Lei nº 11.645/2008** torna obrigatória a abordagem da história e cultura indígena nos currículos escolares.
Além do respaldo legal, pesquisadores indígenas, como estudiosos Kaingang, defendem que a escolarização deve ser construída com base nas realidades culturais de cada povo. Estudos apontam que os Kaingang têm sido agentes ativos na negociação e adaptação da educação formal, buscando garantir que o ensino acadêmico não se sobreponha, mas sim dialogue com seus conhecimentos tradicionais.
Para o cacique da Terra Indígena Guarita, Valdones Joaquim, essa iniciativa da UFSM representa um marco histórico para a comunidade:
**"A universidade está rompendo barreiras e trazendo o conhecimento para dentro do nosso território. Isso demonstra não apenas respeito, mas um verdadeiro compromisso com a valorização da nossa cultura e com o fortalecimento da educação indígena", afirmou.
O prefeito de Redentora, Malberk Antoine Kunst Dullius, também destacou a importância do curso e o apoio do município desde o início da iniciativa:
"Essa licenciatura representa um avanço significativo para a educação indígena e para o desenvolvimento das comunidades locais. Desde a primeira edição, temos sido parceiros desse projeto, pois acreditamos que fortalecer a formação de professores indígenas é essencial para garantir uma educação de qualidade e respeitosa das tradições e saberes dos povos originários", ressaltou.
A Licenciatura em Educação Indígena da UFSM surge como um modelo inovador de ensino superior, que alia o conhecimento acadêmico à riqueza dos saberes tradicionais. Esse é um passo essencial para garantir que a educação escolar indígena seja conduzida por aqueles que melhor conhecem sua própria realidade: os próprios indígenas.
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